BEM VINDO!!

Este espaço, é voltado para pessoas que queiram trocar idéias sobre educação de forma geral, reflexões e práticas que venham contribuir para nosso crescimento...
"Fale, e eu esquecerei; Ensine-me, e eu poderei lembrar; Envolva-me, e eu aprenderei." ( Benjamin Franklin )

domingo, 17 de abril de 2011

O QUE É MÉRITO?


Caros amigos, a mensagem abaixo foi enviada à Secretaria de Estado da Educação com relação ao pagamento do "Bônus por Mérito" anunciado pelo governo paulista a ser creditado aos professores conforme as metas atingidas. Leia, se for vosso interesse, e reflita sobre o que é ou deixa de ser "mérito". Talvez isso também ocorra contigo.

MENSAGEM.........: Caros senhores, Agradeço a todos os senhores do Departamento de Recursos Humanos, ao Senhor Secretário da Educação, ao Governador do Estado de São Paulo Sr. Dr. Geraldo Alkimin e todos aqueles que administram a educação pública em meu Estado natal pelo reconhecimento a meu trabalho como professor durante o ano de 2010. Durante o citado ano, mais do que Língua Inglesa, sempre procurei orientar meus alunos acerca do papel social de cada um deles e da importância que cada um tem pelo potencial a ser desenvolvido por cada um. Muitos desses alunos, desiludidos em suas famílias, sem esperanças de conseguir um lugar ao sol, impotentes perante a selvageria do mercado de trabalho, buscavam na escola uma alternativa viável que os conduzissem ao caminho do bem. E, como representante dessa escola, como agente do governo, sempre me posicionei ao lado de cada um deles, sempre que eu era procurado e, em muitos casos, era eu quem os procurava, haja vista a apatia que pairava sobre eles. Essa prática minha não tem qualquer conotação de interesse unilateral, pois nesses dezenove anos que dedico á Educação Publica Estadual Paulista sempre posicionei meus alunos acima de qualquer coisa, inclusive (perdoem-me meus superiores) quando as resoluções governamentais pudessem prejudicá-los de alguma forma. O meu interesse na Escola jamais foi a legislação ou a burocracia. Meu interesse na Educação sempre foi e sempre será a troca positiva do meu conhecimento com o conhecimento deles. Isso na prática, sem as retóricas de muitos cursos vazios ministrados por que jamais entrou em uma sala de aula. A Língua Inglesa, disciplina na qual sou titular de cargo, é apenas um motivo para estarmos juntos. Ela é aprendida, porém funciona apenas como um veículo de aproximação. O importante é o desenvolvimento do menino e da menina. As notas, muitas vezes, são baixas por diversas razões. Muitos tem limites terríveis a serem superados e não posso padronizá-los. Também, por questões obvias, não posso simplesmente atribuir-lhes nota sem qualquer merecimento, mas não nego que muitas vezes o faço ao reconhecer o esforço e a superação, por mínimos que sejam, mesmo que tecnicamente o resultado não seja lá tão bom. Todavia, alguns deles simplesmente somem da escola. Muitos desistem pelo caminho. Alguns estão tão desesperados que não resistem às tentações das ruas. Muitos, por jamais terem conhecido carinho, afeto e atenção, estranham qualquer aproximação e simplesmente somem. Temos pouco ou nenhum controle sobre isso, pois obrigá-los a retornar priva-os da liberdade de escolha, mesmo que a legislação seja contrária a isso. É nesse ponto que digo que meu respeito por eles é maior que o respeito pela legislação mesmo seguindo essa segunda. Nunca me nego a atender um aluno. Seja a hora que for, onde for e o motivo que for. Ao ser inquirido pelo aluno, me vejo em um momento de rara beleza na Educação, momento esse tão raro nos dias atuais, que é quando o discípulo bebe na fonte do mestre. E esses momentos preciosos jamais podem ser negligenciados. E não o são. Cumpro meu papel de educador com seriedade ao cargo e com o espírito que a função exige. Sinto-me cansado e me irrito às vezes para lembrar que continuo sendo humano. E quando a irritação é maior que o desejo de compartilhar coisas boas, me ausento da escola e permito que outro colega, mais calmo e preparado naquele momento, ocupe meu lugar. Prefiro ausenta-me a descarregar em meus discípulos uma carga que não pertence a eles. E nesse ínterim, o governo diz que pagará o famoso Bônus pelo Mérito. Vejam bem o nome: "Bônus pelo MÉRITO". Bonito nome, maravilhoso o gesto do governo. Atitude nobre de quem quer reconhecer o valor de quem realmente trabalha em prol da Educação como um todo. Para isso, o governo utiliza alguns critérios para destinar valores corretos conforme o mérito de cada um. Também uma atitude louvável, pois uma distribuição aleatória de recursos poderia premiar quem não está tão comprometido em detrimento dos demais. Pois bem, quais são, então, os critérios utilizados: Um deles é o IDESP, um número frio e subjetivo que tem uma finalidade meramente estatística que não reflete em nada outros fatores que não a própria estatística gélida; o outro é uma prova de cunho técnico para avaliar habilidades específicas de cada aluno que jamais refletirá o processo evolutivo do aluno para chegar até ali, pois, como já dito acima, há fatores múltiplos que devem ser considerados para conduzir o aluno a um estágio maior de progressão e, mais que isso, como o próprio governo diz através de seus manuais, "cada aluno tem um tempo de aprendizado próprio e um nível diferente a ser superado e/ou alcançado". Então, como pode uma única prova seca e padronizada medir a evolução de cada menino ou menina por trás daquela avaliação? E muito além disso, como essa prova ou o próprio IDESP conseguem medir o mérito de cada docente se cientificamente eles servem apenas para comparar estatisticamente e classificar pelo conhecimento técnico os alunos em grupo, desconsiderando, inclusive, a individualidade de cada um? Assim, por esses critérios meramente técnicos, todo meu trabalho não foi levado em consideração, pois ele não fazia parte dos critérios de avaliação. Não tem nada. Pior para mim. Não recebi um centavo sequer de bônus. Nem um centavinho. Ou seja, a conclusão que chego é de que não tive mérito algum no que fiz. Nada do que foi desenvolvido, nenhuma orientação dada, nenhum conselho interessante, nenhum segundo de ouvido despendido a um único aluno sequer foi levado em consideração Não houve mérito nisso, pois o lado humano, pessoal, quente das relações, não são considerados. Fiquei sem bônus por priorizar a individualidade, por dar mais valor ao como aprender do que ao conhecimento petrificado e estático, por ouvir mais que falar, por repelir a tecnocracia em favor da humanização. Entendo que isso seja injusto, mas quem sou eu para questionar o Governo do Estado de São Paulo cheio de especialistas em Educação, com renomados técnicos em motivação de pessoas e excelentes gestores da rés pública que se esforçam diariamente para proporcionar uma educação de qualidade aos cidadãos de nosso Estado? Sou um mero agente do estado. Sou um número. Também sou estatística, como cada um de meus alunos e, talvez por ser estatística assim como eles, esse seja o motivo de nos entendermos muito bem através de uma sintonia fina e de não conseguirmos compreender a grandeza das ações do Governo como é o caso da definição da palavra "mérito". Peço muito obrigado a todos aqueles citados no início dessa carta, mas digo que, mesmo assim, não me tornarei um burocrata frio focado em estatística. Não posso fazer isso comigo e nem com meus alunos. Isso será "demérito" demais. Que contradição, não? Caso os critérios sejam reavaliados, talvez eu receba um dia o bônus que mereço pelo trabalho que desenvolvo, pois superei em muito mais de 20% as metas que estabeleci a meus alunos para o ano de 2010 dentro, claro, da priorização da individualidade de casa aluno. E, se esse critério fosse levado em conta e tendo como base um salário bruto médio de R$1.850,00 que recebi por vinte e cinco aulas no período noturno, por ter superado os 20% da meta, eu faria jus ao bônus de 2,9 vezes esse salário, ou seja, pouco mais que R$5.350,00. Mas não é isso que o Governo entende por mérito. Não há mal nenhum nisso. Os critérios são subjetivos e não devem ser questionados. Contudo, jamais esse mesmo governo terá moralmente o direito de dizer que prioriza valores humanos dentro da escola e nem que, como diz o slogam do partido que governa o estado, que a prioridade são as pessoas, pois isso contradiz os critérios de bonificação por mérito adotados por ele próprio ao priorizar os números e os valores tecnicistas. Assim, para finalizar, peço a orientação de meus superiores, dos especialista e dos pensadores da escola que norteiam a Educação Paulista: O que eu devo fazer para ter "mérito" perante ao Governo do Estado: continuar a tratar meus alunos como seres independentes, dotados de aptidões específicas, desejos próprios e ritmo peculiar de evolução ou devo me adaptar aos critérios adotados pelo governo que prioriza os números, a estatística e o tecnicismo, mesmo que para isso eu, digamos, me desumanize um pouco? Parabéns ao governo pela tentativa de motivar os educadores através do bônus por mérito. Todavia, considerem os motivos humanos que envolvem a educação, pois, caso contrário, o efeito será desastrosamente reverso, já que a desmotivação que hoje é grande e pro todos os lados insiste em me abraçar, possa se tornar generalizada agravando ainda mais o quadro de desolação que toma conta das escolas por esse São Paulo de meu Deus. Que a paz de Deus possa iluminar a mente de vocês que estão no comando e que possa Ele trazer a vós o discernimento necessário entre a justiça e a iniqüidade institucional. Despeço-me com a certeza de vossa compreensão.


José Marcelo Pavanelli
Professor de Letras
jmpavanelli@hotmail.com


Se desejar repassar a alguém, esteja à vontade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário